SEGUINDO A VIDA...

PEDINDO licença ao mestre faço minhas suas sábias palavras, para explicar por quais caminhos este blog segue;
Mesmo com toda a fama, com toda a brahma /Com toda a cama, com toda a lama /Mesmo com o nada feito, com a sala escura /Com um nó no peito, com a cara dura /Não tem mais jeito, a gente não tem cura /Mesmo com o todavia, com todo dia /Com todo ia, todo não ia /Mesmo com toda cédula, com toda célula /Com toda súmula, com toda sílaba /A gente vai levando, a gente vai tocando, a gente vai tomando, a gente vai dourando essa pílula !
vamos levando essa vida...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Um cordel de histórias ou umas histórias de cordel...

Todo profissional ou amante de História tem um hábito horrível, insuportável, que nos confere a alcunha, bem apropriada devo dizer de chatos...  É impossível assistir um filme, uma peça de teatro ou simplesmente uma novela  com um chato desses sem que logo venha essa pessoa em busca de coerência histórica, sem contextualizar ou simplesmente sem dar uma “aula de história “ sobre o que está sendo apresentado... Eu como boa chata que me prezo, quero dizer, como boa professora de história também tenho essa horrível mania, por isso além de minha opinião sobre  Cordel Encantado, aí vai um pouco de História... Vai que alguém queira saber... Se não quiser... Tudo bem, pelo menos aplaquei  aquela inquietação que inevitavelmente me leva a ser chata durante os filmes, teatro e novelas...
Hoje é dia de cangaço...
Ao longo de setenta anos (1870 a 1940) desenvolveu-se no Brasil um fenômeno social com características únicas: o Cangaço, também chamado banditismo social. O bandido social é, em geral, membro de uma sociedade rural atrasada em que predomina a grande propriedade.
Esse tipo de bandido não pode ser comparado aos bandidos comuns, pelo contrário, é um camponês comum, que, por algum motivo, foi injustiçado pelos poderosos locais, ou um rebelde contrário á ordem vigente e que, por isso, é admirado, ajudado e protegido pela população.
Nesse tipo de sociedade agrária, é muito comum um camponês pegar em armas para vingar a honra, para se defender dos latifundiários que querem oprimi-lo, ou então para  se recusar a  pagar os impostos e tributos devidos ás autoridades.
Jagunços e pistoleiros sempre foram figuras comuns no contexto politico do Nordeste. Contratados pelos senhores das grandes fazendas, serviam como guarda pessoal na execução dos pactos de morte ou na luta pelas disputas de terras. O cangaço tinha um caráter diferente; era um movimento independente, de revolta contra os latifundiários. Os cangaceiros eram ex- vaqueiros, ex- camponeses, ou ex- jagunços ou ex - militares, sob a chefia de algum líder carismático, e viviam de assaltos, pilhagens, sequestros de pessoas ricas, buscando a justiça com o rifle na mão. A palavra cangaço viria de canga, peça de madeira que prende os bois ao carro ou arado; exprime, portanto, o fato de a pessoa estar submetida ao senhor de terras.
 O mais famoso foi o de Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião o rei do cangaço que durante vinte anos (1918 a 1938) dominou o sertão.  Antes de Lampião, outros cangaceiros se destacaram. Entre eles, podemos citar: Inocência Vermelho, João Calangro, Jesuíno Brilhante, que roubava  alimentos  e os distribuía a população (acho que vi isso em algum lugar... será coincidência?...) a poesia  popular o celebrou:
Já mataram Jesuíno
Acabou-se o valentão!
Morreu no campo de honra sem se entregar a prisão.
 e Antônio Silvino, apelidado o “governador do sertão”, foi preso em 1914 por uma volante  e passou 28 anos na prisão. Foi indultado por Getúlio Vargas e morreu em 1944, aos 79 anos em campina Grande (Paraíba).
Virgulino Ferreira da Silva, nasceu na comarca de Vila bela (hoje Serra Talhada) no estado de Pernambuco, em 7 de julho de 1897. Sobre a origem de seu apelido – lampião-, eis o que diz Nertan Macedo: “ Virgulino atirava com tal velocidade que, em poucos minutos, o cano do rifle esbraseava, chegando a clarear. Daí o apelido de lampião.” Após o assassinato de seu pai, Virgulino, Antônio e Livino entraram para o cangaço, no bando de Sebastião Pereira e luís  Padre.



Lampião sempre recebeu apoio dos camponeses e vaqueiros pobres que concentravam suas esperanças nas façanhas do cangaceiro, conforme afirma a poesia popular: “É preciso uma inleição/pra faze de Lampião/gunvernador do Brasil”.
Seu romance com Maria Bonita, mulher forte e valente, passou para a cultura popular. Perseguido pelas volantes policiais – expedições militares com finalidades de capturar criminosos e bandidos – Lampião só foi derrotado em 1938. Nesse ano, o comerciante Pedro Cândido revelou a policia, sob  tortura, o esconderijo de Lampião. Agindo de surpresa, uma tropa da polícia desbaratou o bando. Cerca de 40 cangaceiros conseguiram escapar, mas 11 – entre eles Lampião- foram mortos e seus cadáveres decapitados. As cabeças, mumificadas, ficaram expostas no Museu Nina Rodrigues (Bahia) até serem enterradas, em 1968.
Lampião (Virgulino Ferreira da Silva) o mais famoso chefe do cangaço, era figura extremamente popular. Suas façanhas, cantadas pelos violeiros nas feiras nordestinas, transformaram o cangaceiro em herói, justiceiro e vingador dos pobres e explorados camponeses.

Adeus, adeus minha mãe
Me dê sua benção.
Vou acertar minha vida
No grupo de lampião.

Querendo tange comboio
Inté sou bom comboeiro.
Querendo fazer sapato,
Inté sou bom sapateiro.
Querendo anda no cangaço,
Inté sou bom cangaceiro,

Que isso de mata gente
É o serviço mais maneiro.

A vida é um pau de formiga
Nestas grotas do sertão,
Mais a gente véve alegre
No bando de lampião.

Se o cabra não tem corage,
Que mude de profissão
Vá prô cabo da enxada
Aprontá fava e argudão.
(Melquíades da Rocha – Bandoleiros das caatingas)
Fontes de pesquisa
Toda a história: história geral e do Brasil – José Jobson de Arruda e Nelson Pilleti.
História – Renato Mocellin