SEGUINDO A VIDA...

PEDINDO licença ao mestre faço minhas suas sábias palavras, para explicar por quais caminhos este blog segue;
Mesmo com toda a fama, com toda a brahma /Com toda a cama, com toda a lama /Mesmo com o nada feito, com a sala escura /Com um nó no peito, com a cara dura /Não tem mais jeito, a gente não tem cura /Mesmo com o todavia, com todo dia /Com todo ia, todo não ia /Mesmo com toda cédula, com toda célula /Com toda súmula, com toda sílaba /A gente vai levando, a gente vai tocando, a gente vai tomando, a gente vai dourando essa pílula !
vamos levando essa vida...

terça-feira, 19 de julho de 2011

CORDEL ENCANTADO: Maria Cesária - de cristal a diamante


Então aí está a peça que estava faltando nesse intrincado quebra cabeças, apesar de toda minha verborragia e inconformidade e destemperança ou como as meninas da Familia disseram surto bipolar (mas não se assustem eu juro que não sou bipolar... levemente distimica, mas bipolar não) sempre senti que alguma coisa não estava bem,faltava algo, eu estava deixando de perceber alguma coisa. Tenho um defeito (ou não, depende do ponto de vista) grave... Eu tenho a necessidade quase neurótica de entender as coisas detalhadamente, e dificilmente largo o osso enquanto tudo não fizer sentido para mim... Resultado: geralmente dou uma surtadinha de leve... Eu tenho que encontrar um sentido que faça sentido (nossa agora redundou!) pelo menos para mim, do contrário fico incomodada  e fico ruminando tal ideia até...Ok eu sou obsessiva...
Tomo aqui a liberdade de reproduzir um trecho do comentário de Papillon que me Fez “rever” a luz: "... Você parou para pensar que Maria Cesária quando expressou a Augusto o quanto estava magoada, ela se referiu a sentimentos antigos: bicho do mato, criada etc...? Que ela havia passado pela experiência de ser ameaçada pela espada do general etc? Não haverá uma catarse destes sentimentos que ela precisa fazer, antes de ser capaz de perdoar e retomar seu itinerário. A maneira como ela afrontou H libertando a Duquesa não terá sido uma catarse que a libertará também para um amor mais profundo não tão frágil quanto um cristal?..."
Não eu não pensei nisso... E aqui me quedo (sempre quis dizer isso) terrivelmente constrangida, envergonhada mesmo, por ter esquecido desse que não é um mero detalhe, mas o cerne de toda a questão... O mais grave disso tudo é que em posts anteriores  eu falei em vários momentos sobre esse exato ponto, entretanto o que faço... Deleto no momento mais preciso... Um outro hábito meu de sempre querer o 8 ou o 80, preto ou branco, esquecendo que entre esses extremos existem outros númerose outras cores.
Quando Augusto diz vulgar e ato indigno, ele joga na cara de nossa Cesária, vinte anos, de uma vida onde o desprezo do pai, as crueldades do irmão foram uma constante em sua vida. Pelo o que podemos entender Cesária foi criada de uma forma em que afeto familiar elogios foram  elementos raros, foi criada acreditando ser inútil, feia, bicho do mato, xucra,sem valor...  trancafiada naquele casebre, sem ter contato com o mundo lá fora e principalmente com pessoas que pudessem reverte essa auto imagem negativa. Seu único prazer eram suas panelas e temperos, por onde ela podia revelar ao mundo o que era e sentia.
O pai uma figura autoritária, machista e ignorante (não de cultura mas de espírito),o irmão Tibungo ambicioso e capacho,  sempre a menosprezando, a mãe sua companheira e única amiga, lutando para manter a harmonia do lar,mas muito pouco podendo fazer diante das acusações e da suspeita sobre si, Galego... Rejeitado e sem espaço, tomara resolver seus próprios dilemas e Juca é apenas uma criança...





De um dia para outro ela sai de sua torre (casebre) e conhece um mundo diferente de tudo o que imaginou, ganha um amor de conto de fadas, desabrocha para a vida, vai aos poucos se libertando de seus fantasmas... Mas vejam bem, depois de uma vida, não é tão fácil assim exorcizar todas essas mágoas, não de uma vez... Ao longo desses meses podemos acompanhar a metamorfose que acontece com ela, sua postura, seu tom de voz, a expressão de seu rosto, aos poucos a borboleta vai saindo do casulo, vai perdendo o medo de estar no mundo... Eu costumo sempre dizer para meus alunos que a grande transformação na evolução humana foi o tornar-se ereto,  olhar o mundo de frente, ver o horizonte, enxergar ao longe, quem vive a olhar para o chão perde o mundo ao seu redor, não percebe as possibilidades a sua frente,o companheiro ao seu lado, os perigos a sua volta,  deixa a vida passar... Cesária quando tem seus olhos descobertos por Augusto, lá no inicio,  é apresentada a esse horizonte, a essas possibilidades, é convidada a participar do mundo ( confesso que é uma das minhas cenas preferidas), é maravilhoso... Mas dá um medo... Experimentem olhar para o horizonte, ele é tão imenso quanto fascinante...




Ela ainda receia dar um sim, anos se acreditando um nada, não são apagados de uma hora para outra... Em uma conversa com sua mãe  isso ficou bem claro, pois ela diz que tem medo de que o cotidiano mostre para Augusto que ela não é aquilo que ele espera, que ele esteja enganado,iludido quanto ao valor que ela tem...
Quando Augusto diz a ela atitude vulgar e ato indigno sem querer ele confirma todos os seus medos, ouvir isso do homem amado, doeu tanto quanto ouvir uma vida inteira o menosprezo do pai e do irmão, foi retornar aquele casebre, a sua vida sem luz, sem cores e sonhos...
E eu esqueci disso... Ah! Futura rainha perdoe-me pela minha cegueira temporária,errei em julga-la tão duramente, egoisticamente me recusei a ver o óbvio ululante... Até um pouco cruel... Assim como Augusto fico aqui agora me martirizando...
Mas a luz se reacendeu, as dúvidas se foram, as neuroses se dispersaram, e os botõezinhos do mal estão silentes...
Cresça menina, amadureça cada dia mais, exorcize seus fantasmas, aprenda cada vez mais e deixe que o mundo veja que grande mulher você tem se tornado, valente, corajosa, generosa, justa, digna, qualidades de uma verdadeira rainha... 







A nobreza de sua alma lhe mostrara o caminho para seu autoconhecimento e no final dessa jornada a vida lhe reservara  a recompensa  de suas descobertas: FELICIDADE.