SEGUINDO A VIDA...

PEDINDO licença ao mestre faço minhas suas sábias palavras, para explicar por quais caminhos este blog segue;
Mesmo com toda a fama, com toda a brahma /Com toda a cama, com toda a lama /Mesmo com o nada feito, com a sala escura /Com um nó no peito, com a cara dura /Não tem mais jeito, a gente não tem cura /Mesmo com o todavia, com todo dia /Com todo ia, todo não ia /Mesmo com toda cédula, com toda célula /Com toda súmula, com toda sílaba /A gente vai levando, a gente vai tocando, a gente vai tomando, a gente vai dourando essa pílula !
vamos levando essa vida...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

UM POUCO DE CARNAVAL...

Existe coisa mais maravilhosa que carnaval???... Provavelmente sim, deve existir mil coisas mais maravilhosas do que carnaval, mas eu no meu humilde pensar gosto para caramba dessa festa dita profana...
Em que outro lugar a favelada ou o gari podem se tornar rei e rainhas???? Só mesmo no carnaval... Você pode exorcizar todo os seus demônios, ser o que quiser e quem quiser... Eu sei que tem muitas coisas erradas que acontecem no carnaval, não sou tão tapada assim... E nem tão inocente...
Na História da humanidade, com o passar da civilização, muitas delas tinham por hábito e costume realizar festivais que duravam 4, 5 dias onde  ocorriam verdadeiros bundalêlês, estes festivais procuravam celebrar a fertilidade do solo, acalmar a fúria de algum deus, ou simplesmente proporcionar ao povo um espaço para extravasar suas frustrações... Durante estes dias tudo era permitido, os tabus caiam por terra... Depois disso as coisas e os comportamentos deveriam voltar ao seu normal, o que havia sido permitido com o fim destes festivais não mais seriam tolerados, a “normalidade” voltava a reinar e o povo que havia extravasado além de seus limites, voltava a sua rotina, sem culpas e sem máculas...
Por tanto não é de se estranhar que no Brasil costume-se dizer que o ano só começa realmente depois do carnaval...
De uns tempos para cá andei meio afastada do carnaval, aconselho a todos e todas, carnaval é para se divertir, não inventem de fazer parte da organização, seja de bloco ou escola de samba, o encanto se perde... Palavra de quem já fez essa bobagem... Houve épocas de minha vida que eu chorava para não ter que ir cumprir meus compromissos, chegava a ficar doente...
Enquanto eu era apenas uma foliã, foi tudo lindo... Bem quase... Até meus sete anos minha mãe cortava um dobrado comigo, fazia a fantasia, me maquiava, me levava ao baile infantil e lá ficava eu 5 horas sentada olhando para os outros, as pessoas diziam para eu ir dançar e eu impávida respondia: Não, só vim ver os músicos...
eu sou a de branco, meu primeiro carnaval.

A partir dos sete anos, comecei a gostar da brincadeira, minha mãe desistiu de mim, e meu avô me assumiu, me levava para cima e para baixo, me inscrevia nos blocos infantis e pagava minha fantasia, além de me acompanhar nos desfiles de rua... Acabei pegando gosto... E aí acabou! Não parei mais até ser parada...

Com 10 anos descobri a escola de samba... Grêmio Recreativo Escola de Samba Barão de Itararé ... Eita...  E minha mãe descobriu que queria ser mãe de miss, ou melhor de rainha de carnaval... Mas ser rainha de carnaval é para poucas, é uma guerra meu povo!!!!  Isso sem falar das dores pelo corpo, dos gastos, dos quilos que eu perdia...

Uma verdadeira selva assim são os bastidores do carnaval e de uma grande crueldade as relações entre as rainhas das diferentes agremiações e... Pasmem de casa também, eu sempre tive problemas com minhas parceiras de escola ... Eu já estava quase desistindo, embora me matasse na quadra de tanto dançar, nunca fui reconhecida, como disse eu estava quase desistindo  quando fui convidada para ser rainha de um bloco do bairro o Tôa_Tôa... Era o segundo ano deles, éramos apenas 50 componentes e... Ganhei como segunda princesa da cidade... No outro ano de 50 componentes fomos para 120, no outro 250 e encerramos as atividades do bloco ( foram 10 anos) com 360 e o tricampeonato de melhor bloco da cidade... Nesse meio tempo de rainha do bloco, fui para a diretoria... Pesadelo, cuidar e organizar 300 pessoas eufóricas, bêbadas não é mole, isso sem falar dos adolescentes que estavam sobre nossa responsabilidade... Pesadelo...

Como se não bastasse às dores de cabeça com o bloco eu fui convidada pela escola, não exatamente convidada, pois eu nem sabia, estava eu em casa, quando chegou uma moto na frente, era um dos rapazes da bateria dizendo que eu deveria ir para a quadra para receber a faixa de Musa da Bateria, em choque ( e totalmente envaidecida, me arrumei rapidinho e fui..)
3 anos de outro pesadelo...
Abrindo um parênteses – vocês sabem qual a diferença entre uma rainha de bateria e uma musa de bateria??? ( pelo menos aqui na minha terra...) Rainha é eleita todos os anos e musa é por quanto tempo ela quiser... E esse foi o grande problema... Mas eu chego lá...
Eu toda cheia de expectativa, mandei fazer minha fantasia na costureira mais famosa de Santa Maria... No dia do desfile a minha escola era a primeira, deveria entrar na avenida as 22:00 da noite... As 19:00 eu estava sentada na sala de espera da tal costureira esperando ela terminar a minha fantasia, as 20:30 recebi minha fantasia quente ainda ( da cola quente), cheguei em casa as 21:00 chorando copiosamente, pois a maldita fantasia estava grande... Minha mãe deu uns gritos comigo  ( eu tive um piti, naquelas condições eu não queria ir para a avenida de jeito nenhum...)e costurou a maldita no meu próprio corpo, minha sorte é que em Santa Maria tudo atrasa, e o inicio do desfile atrasou, pois do contrário não teria dado tempo...
ensaio técnico

No ano seguinte lá estava eu de novo, não na mesma costureira, claro né, mas desta vez o problema não foi a fantasia... Foi minha idade... Eu estava com 26 anos, e segundo os padrões da minha cidade e de algumas pessoas da minha própria escola, mesmo eu cumprindo e muito bem todos os meus compromissos, eu estava velha demais para estar á frente da bateria...
E o meu encerramento aos 27 anos segundo as pessoas uma ânsia, troquei de novo de costureira, além de ser chamada de múmia ( e mais outras coisinhas...) aconteceu de novo, 20:00, dia do desfile e eu correndo atrás da costureira que não havia terminado minha fantasia... Para mim bastou... Resolvi me aposentar mesmo...

Mas eu confesso sinto falta da avenida, quando a luz verde acende dando inicio ao desfile, quando os foguetes começam a espocar no céu, não há sensação melhor... Eu me sinto em outro mundo, me sinto outra pessoa, ou me sentia né???
Outra coisa que sinto falta é das minhas crianças da quadra, onde eu ia sempre havia um grupo de pequeninas, atrás da musa... E todas me imitavam, na forma como eu me vestia, na forma como eu dançava...
Hoje em dia apenas assisto, nem faço, ou fazia questão de ir aos ensaios, não fazia por que estou de volta, sem o peso da faixa, tenho ido aos ensaios, para relaxar, dançar ( que mao muito...) e me divertir, as minhas pequeninas, já estão mocinhas e ficam me olhando, esperando que eu vá para a frente da bateria para que elas possam me acompanhar, sim por que as atuais não permitem que elas ocupem aquele espaço, eu nunca me preocuperi com isso, muito pelo contrário sempre fiz questão de dividir aquele espaço com as novas gerações...
De tudo isso, eu só lamento pela minha mãe... Quando ela era jovem, meu avô jamais permitiu que ela fizesse metade do que eu já fiz, principalmente no quesito carnaval ( muito contraditório pois ele era um dos meus maiores incentivadores), tanto que ela nem sabe dançar, e quando eu entrava na quadra ou na avenida eu podia ver o brilho de orgulho e realização que ela sentia, ela realizava seus sonhos juvenis por mim, pode parecer uma bobagem, mas não vou esquecer jamais o brilho de seus olhos quando me via dançar... Mas não deu mais, cansou minha pouca beleza... Aposentei os paetês... ouuuuuuuu....