SEGUINDO A VIDA...

PEDINDO licença ao mestre faço minhas suas sábias palavras, para explicar por quais caminhos este blog segue;
Mesmo com toda a fama, com toda a brahma /Com toda a cama, com toda a lama /Mesmo com o nada feito, com a sala escura /Com um nó no peito, com a cara dura /Não tem mais jeito, a gente não tem cura /Mesmo com o todavia, com todo dia /Com todo ia, todo não ia /Mesmo com toda cédula, com toda célula /Com toda súmula, com toda sílaba /A gente vai levando, a gente vai tocando, a gente vai tomando, a gente vai dourando essa pílula !
vamos levando essa vida...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

As duas faces da moeda.

Em história nada tem um lado apenas, como em uma moeda a história tem sempre dois lados, na verdade ela tem muitos lados e muitas versões, depende de quem a lê, de quem a escreve, interpreta e usa... Por isso gosto tanto de História ela é multifacetada, como disse o saudoso professor Joel Abílio Pinto dos Santos na minha primeira aula na faculdade a História é dicotômica em outras palavras é uma moeda com duas faces, com erros acertos, heróis, vilões, um lado bom e... Um lado não tão bom assim... Anteriormente falei do lado heroico e justiceiro do cangaço nesse post... Vem o outro lado.
Esse artigo foi retirado da revista de História da Biblioteca Nacional, ano 6, número 68 de Maio de 2011
Sob o título “A sedução dos bandidos” a matéria busca uma explicação para o processo  de construção das lendas e mitos em torno de figuras tidas como bandidos, busca uma resposta para a atração que os “fora da lei” exercem na sociedade do Brasil e do mundo  a ponto de serem transformados pela mídia e pela população em heróis românticos. Exemplos: Robin Hood, Bonnie e Clyde, Jesse James, Escadinha, Leonardo Pareja, Lili Carabina (Opa aqui um rápido esclarecimento não foi por causa dela que adotei o apelido de Lili, o meu Lili é francês e vem de um filme bobo que assisti quando criança na sessão da tarde, aliás... meu próximo post talvez seja sobre isso.) e claro Lampião.
Aos trabalhos:
“Um homem armado invade uma casa em busca de comida. A dona, uma humilde viúva da zona rural, não tem o que oferecer. Tomado por um ataque de fúria, o invasor dá uma surra na mulher e depois se volta para o jovem filho da viúva, que presencia tudo. Põe então em prática seu gosto por rituais de sadismo gratuito: enfia o órgão genital do menino numa gaveta e a tranca com chave. Depois, ateia fogo á casa. Desesperado, o rapaz é obrigado a cortar o próprio pênis para salvar a vida.
O facínora responsável por esse crime hediondo é hoje um mito nacional: Virgulino Ferreira, vulgo Lampião. Sua ficha criminal não caberia em todas as páginas desta edição (são 11 páginas). Durante 22 anos, liderou um bando de cangaceiros em ataques sangrentos num vasto perímetro de sete estados do nordeste. Arrasavam vilas e propriedades rurais. Estupravam mulheres. Castravam rapazes. Enterravam gente viva. Cortavam cabeças. sangravam inocentes como animais em praça publica. Marcavam com ferro em brasa o rosto de moças que se vestiam de modo inadequado...
... O terror promovido pelo cangaço contribuiu para a migração em massa do Nordeste para o Sudeste nas primeiras décadas do século XX. Os cordéis da época lamentavam o sofrimento do sertanejo nas mãos dos bandidos:
È um tormento horroroso
Essa tal situação,
Da gente não poder mais
Viajar pelo sertão
Para encontrar no caminho
Indo cair direitinho
Nas unhas de Lampião.
... Como explicar lampião, o Mito?
É o que se perguntava desde criança a antropóloga Luitgarde Cavalcanti... Por mais de 20 anos, Luitgarde se dedicou a investigar o cangaço, o que resultou no livro “A derradeira gesta: lampião e Nazarenos guerreando no sertão.” Para ela, a mitificação de Lampião é um absurdo histórico a ser corrigido. Segundo suas palavras: _ ele só conseguiu permanecer 22 anos praticando seus crimes porque servia á classe dominante. O êxodo provocado por Lampião refez o  latifúndio no sertão nordestino. Enquanto foi vivo, ele não era mitificado pelo povo. Até o inicio dos anos 60 nenhum cordel dizia que Lampião teria ido para o céu; ele sempre aparecia no inferno. Diz ela...
...Então, quando, e por obra de, surgiu o Lampião fictício, guerreiro de um Brasil miserável?...
Em primeiro lugar estão os que participaram ou se beneficiaram do cangaço. Os irmãos Melchiades e Ezequias da Rocha, por exemplo, descendiam de coiteiros de Lampião 9 gente que ajudava os cangaceiros a se esconder e os apoiavam com serviços variados). Aos Rocha soava bem melhor ter ancestrais ligados a um justiceiro do que serem conhecidos como protetores de bandidos... O jornalista Melchiades, repórter de A Noite, passou a defender um novo olhar sobre o cangaço, enquanto o médico e senador Ezequias compunha cordéis sob o pseudônimo de Zabelê...
Para havê paz no sertão
E as moça pudê prosá
E os rapaz pudê ri
E os menino diverti
É preciso uma inleição
Pra fazê de  Lampião
Gunvernador do Brasil
...No outro extremo dos embates políticos, o novo Lampião caía como uma luva para a propaganda comunista no brasil, como exemplo de “herói camponês”, a Internacional Comunista chegou a pensar em recruta-lo como guerrilheiro. Nos anos 60, quando sobreveio a ditadura e a esquerda se aferrou a símbolos da libertação popular, não havia mais dúvidas sobre quem teriam sido os vilões e os heróis nos combates entre os cangaceiros e a polícia corrupta dos coronéis...
Para o historiador inglês Eric Hobsbawm lampião entra no rol dos Bandidos sociais, pois eterniza-se no imaginário popular através de sua honrosa luta contra autoridades ilegítimas ou injustas, um significado pré-político, demarcando o inicio de reação das populações excluídas contra a opressão dos poderosos locais, embora para ele lampião seja uma figura ambígua, meio nobre, meio monstro.
... Em diversos tempos e  culturas, a vingança é encarada como motivo aceitável para se pegar em armas a fim de fazer justiça com as próprias mãos. .. Antônio Silvino começou sua vida bandida para vingar o pai assassinado. O mesmo argumento por vezes é usado para defender lampião... Luitgarde se insurge contra a tese: _ Isso é outra mentira. Lampião entrou para o cangaço com o pai muito vivo, em 1916. O pai dele só morreu cinco anos depois. Em seu livro, Luitgarde chama de escudo ético o pretexto da vingança paterna utilizado por  Lampião para justificar suas ações. Antônio Silvino, em oposição, ganho credito da pesquisadora por ter mantido um resto de honra, obedecendo a certos limites – não estuprava e não castrava, por exemplo...
E a matéria segue falando de outras figuras lendárias que de bandidos transformaram-se em heróis populares.
PS -  Não sou ninguém para ir contra 20 anos de pesquisa, mas tem um que de pessoal no trabalho da antropóloga já que a mãe dela teve um encontro desagradável com o objeto de pesquisa Lampião, que só não violentou as moças da família por que eram brancas, de olhos claros e cabelos loiros e refinadas demais para o gosto dele e de seus homens.
PS 2 – Também sendo gaúcha nada posso falar sobre  ícones de outros estado afinal de contas os primeiros gaúchos não eram exatamente cavalheiros muito honrados.
PS 3- Ainda assim... Ah se eu caísse nas garras do capitão Herculano... Eu!... Não a Maria Cesária.